Agora é lei: 18 de dezembro passa a ser comemorado em Florianópolis como o Dia Municipal da Baleeira. A proposta partiu da equipe do projeto Baleeiras da Ilha e foi apresentada como projeto de lei pelo vereador Afrânio Boppré no início do ano. A sanção do prefeito Topázio Silveira Neto foi publicada no Diário Oficial do Município nesta terça-feira, 28 de junho.
A baleeira é uma embarcação típica do litoral catarinense que corre o sério risco de extinção, já que vem sendo cada vez menos utilizada e construída. "O Dia Municipal da Baleeira foi a forma que encontramos de reconhecer o valor desta embarcação, dedicando uma data especial no calendário anual para a sociedade discutir o passado, o presente e o futuro desta manifestação cultural tão importante para a história de Florianópolis e dos florianopolitanos", relata Luciano Luiz Dias, técnico em construção naval e membro da equipe do projeto Baleeiras da Ilha.
O dia 18 de dezembro foi escolhido para comemorar o Dia da Baleeira em homenagem ao nascimento, em 1929, de seu Alécio Heidenreich, tradicional construtor de baleeiras do Ribeirão da Ilha. Falecido em 18 de março de 2022, aos 93 anos, ele construiu cerca de 80 baleeiras e deixou uma história de amor e dedicação à embarcação. "Consultamos os pescadores da cidade para definir a data e todos foram unânimes em confirmar a relevância da homenagem", destaca Luciano.
Kalunga Heidenreich, filho do seu Alécio, reconhece a importância da data. "Além de preservar a embarcação como grande patrimônio material do ilhéu, é preciso resgatar o conhecimento da carpintaria naval e a arte dos mestres baleeiros. Tenho certeza de que essa data vai ser um dia de reencontro da Ilha com o mar e, acima disso, uma data de festa para a cultura e para a história de Florianópolis".
Sobre a baleeira
A baleeira é feita em madeira e seu casco se difere de outras embarcações construídas no mesmo material por ser arredondado e com táboas que se sobrepõem, imitando escamas. Seu formato e modo de construção faz dela uma embarcação veloz e fácil de manobrar. A segurança ao navegar é também um diferencial, tanto para pescaria como para passeio. É um barco ao mesmo tempo rústico, valente e belo.
Ainda hoje é usada para pesca, profissional ou amadora, e para transporte de passageiros. Mas seu futuro pode estar em risco. Ela já não é mais construída, pois utiliza madeiras que não podem mais ser extraídas por serem protegidas pela legislação ambiental. Além disso, os métodos de construção da baleeira estão preservados apenas na memória de mestres artesãos. É o epílogo de uma história que o Projeto Baleeiras da Ilha e o Dia Municipal da Baleeira procuram preservar.
Sobre o projeto
O projeto Baleeiras da Ilha é integrado por profissionais de Florianópolis que se uniram em torno do sonho de preservar a memória da embarcação. Para tanto, foi lançado em dezembro de 2021 o site baleeirasdailha.pmf.sc.gov.br, com financiamento do edital nº 992, do Fundo Municipal de Cultura da Prefeitura de Florianópolis.
O site reúne fotos e histórias das baleeiras que ainda resistem em Florianópolis. Nas relatos é possível ver a sensibilidade dos proprietários ao risco de sumiço da baleeira e a admiração de cada um pelas suas características únicas. Em todos os depoimentos, um ponto em comum: o amor quase fraternal entre o homem e seu barco.
Equipe do Projeto Baleeiras da Ilha
Luciano Luiz Dias, técnico em navegação naval - consultoria técnica
Cristina Gallo, jornalista - fotos
Gisele Dias, jornalista - textos